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Terminação em confinamento traz vantagens à pecuária de corte

29/05/2024

A busca pela melhor produtividade do rebanho bovino faz parte do dia a dia do produtor agropecuário. Muitas vezes o desempenho mais eficaz pode ser feito em mudanças nas atividades do dia a dia. Um exemplo disso são as boas práticas de manejo no confinamento, que não acarretam no aumento de custos e nem do tempo necessário para realizar as rotinas do sistema, mas são essenciais para o sucesso da atividade.

A terminação de bovinos em confinamento apresenta uma série de vantagens para a cadeia produtiva da pecuária de corte ao longo do ano, como o maior equilíbrio na oferta de animais terminados; menor pressão de pastejo nas pastagens no período seco; e diminuição da idade de abate do rebanho.

Apesar de bovinos serem animais herbívoros acostumados ao pastejo, eles conseguem viver em confinamento, quando adaptados corretamente. Para isso, é preciso respeitar algumas rotinas de manejo, como o tamanho e número de animais por lote; o espaço disponível por cabeça; mistura de lotes; condições climáticas adequadas; ausência de sons, pessoas e objetos desconhecidos, lama ou poeira nos currais de confinamento.

“A maioria dos bovinos se adapta facilmente e, quando isso não ocorre, o animal deve ser retornado à pastagem. Por isso, é de extrema importância que o bovino seja monitorado individualmente; observando-se o vazio fundo; se as narinas estão secas; ausência de ruminação; ou isolamento do resto do rebanho”, explica o zootecnista e supervisor comercial da Connan, Isaias Martim.

Manutenção dos currais

O supervisor ressalta a importância do planejamento das instalações do confinamento, como o objetivo de atender às necessidades dos animais e dos manejos, considerando as características de cada propriedade, como clima, topografia, característica do solo, e disponibilidade de água e alimento.

“Bovinos são animais que não gostam de ficar presos em locais enlameados. Quando isso ocorre, a eficiência alimentar decresce de 6% a 8%, porque o rebanho passa mais tempo de pé, rumina menos, gasta mais energia para se locomover e diminui o consumo de alimento, resultando na redução de ganho de peso em até 37%. Caso a formação de lama seja inevitável, deve ser feita uma elevação no piso dos currais, denominados montes ou solários. No caso da poeira, o uso de aspersores nos currais dimensionados corretamente pode diminuir o problema”, afirma Martim.

O acesso à água e ao alimento deve ser garantido de maneira igualitária a todo o rebanho em qualquer hora do dia e durante todo o período de confinamento. Os cochos precisam ser limpos diariamente, e os bebedouros pelo menos duas vezes por semana. A água dos bebedouros deve ser escoada para fora do curral, o que evita a formação de lama e garante fácil acesso aos animais. Além disso, é fundamental dispor de um reservatório protegido que garanta a quantidade suficiente de água para suprir o consumo de todos os animais pelo menos por três dias.

Para evitar fugas e acidentes, as cercas precisam ser íntegras e bem esticadas. Como bovinos costumam se coçar nos palanques da cerca, uma alternativa é instalar coçadores dentro dos currais de confinamento. No caso de cercas com fios eletrificados, é preciso que seja feito o correto isolamento, para não haver risco de contato com a água dos bebedouros. A cerca da frente dos currais não pode atrapalhar o acesso dos animais ao alimento e deve estar sempre bem esticada, impedindo que eles pulem ou caiam dentro do cocho.

Recepção dos animais

O transporte é fonte de estresse para os bovinos, principalmente em viagens longas. Nesse caso, ao invés de fazer o processamento do rebanho logo após o desembarque, o recomendado é colocá-lo em um piquete com pastagem, para que se recupere mais rápido do estresse.

Na hora de separar os lotes, é preciso observar características dos animais como faixa de peso; raça; sexo; número de cabeças por lote e se todos estão em boas condições de saúde. Aqueles com dificuldade de locomoção ou sintomas clínicos de doenças devem ser apartados do lote e levados ao curral enfermaria. “Após a condução dos animais até o curral destino, a porteira é fechada, mas um vaqueiro precisa permanecer no local, observando o comportamento dos animais”, evidencia o zootecnista.

Na questão da alimentação no confinamento, pode-se adotar o programa de escadas, normalmente uma dieta com menos energia que a de terminação. Essa técnica é fornecida nas duas primeiras semanas, a partir daí tem início a transição à dieta de terminação.

Outra opção é a adaptação de restrição de quantidade de alimento, trabalhando desde o início com a dieta de terminação, porém começando com uma quantidade menor e aumentando aos poucos a quantidade a ser fornecida. “Qualquer uma das duas pode ser adotada, desde que haja um bom manejo de leitura de cocho e animais”, acrescenta Martim.

Rotinas de monitoramento

O monitoramento do rebanho deve ser feito por vaqueiros experientes, que possam identificar elementos do ambiente e sinais apresentados pelos animais que indiquem situações de risco para a saúde e desempenho. “Nas primeiras duas semanas de adaptação há maior risco de ocorrência de problemas. Nesse período o monitoramento deve ser feito duas vezes ao dia, reduzindo para uma visita diária a partir da terceira semana”, explica o zootecnista.

Ele ainda acrescenta que, no caso da alimentação, o monitoramento deve ser realizado diariamente. “A leitura de cocho precisa ser feita antes do primeiro trato da manhã atribuindo-se notas, que geralmente variam de 0 a 5, sendo 0 para cocho vazio e 5 para cocho cheio, para ajustar a quantidade de alimento a ser ofertada diariamente para cada curral do confinamento”.

Caso haja sobra de alimento, Martim indica que é importante avaliar a qualidade e também se houve mudança climática no dia anterior, “excesso de chuva, frio, calor, fatores que podem interferir no consumo dos animais. Bovinos gostam de rotina, por isso o alimento deve ser distribuído sempre nos mesmos horários e na mesma sequência, uniformemente por toda a linha de cocho. A equipe de tratadores deve anotar e repassar as quantidades reais ofertadas aos animais, mesmo que tenha sido diferente do previsto. Isso evita sobras ou falta do alimento para os animais”.

O acerto máximo no carregamento de ingredientes da dieta é de suma importância. Quanto mais precisas forem as quantidades carregadas no vagão, menor a chance de ocorrer desvios de composição de dieta e de variação de consumo por esse motivo.

A observação das fezes desses animais permite avaliar o aproveitamento da dieta e  também auxiliar na avaliação da sua saúde. Normalmente são aplicados escores de avaliação, considerando a média dos bolos fecais presentes no piso de cada curral. O ideal é que apresentem o valor intermediário, fezes mais pastosas. Fezes muito moles ou duras podem sinalizar problemas na formulação da dieta ou nos ingredientes.

Monitoramento de saúde

Devido à redução da resposta imune em situações de estresse elevada, é frequente encontrar bovinos com problemas de saúde nos confinamentos. O ideal é levantá-los quando estão deitados para uma melhor inspeção.

É importante observar animais isolados do grupo; que passam muito tempo deitados; com manqueira; feridos ou com inchaço em alguma parte do corpo; com movimentos descoordenados; ofegantes; com corrimento nasal purulento; com salivação excessiva e língua caída para fora da boca; com diarreia ou com presença de muco ou sangue nas fezes; empanzinados, com aumento do volume no vazio esquerdo; muito magros; com a cabeça e o pescoço esticado pra frente; com arqueamento de dorso; que apresentam vocalização excessiva.

Ao identificar qualquer animal com qualquer problema de saúde, o pecuarista precisa retirá-lo do curral e conduzi-lo para o espaço dedicado ao manejo, para receber o tratamento prescrito pelo responsável. Após o tratamento, é indicado usar uma identificação de fácil visualização sobre o corpo dos bovinos, o que possibilita uma observação mais cuidadosa e facilita o acompanhamento de sua condição após o tratamento. Nos casos mais graves, os animais devem ser levados para o piquete de enfermaria.

“Essas boas práticas de manejo no confinamento são essenciais para o sucesso da atividade pecuária, e mostram que o conceito de indivíduo ao invés de lote deve ser sempre priorizado. Utilizando as técnicas listadas acima, o pecuarista terá melhores resultados, tanto no ganho de peso dos animais quanto na lucratividade, pois eles melhoram o manejo em si e auxiliam no desempenho e na saúde do rebanho”, finaliza o supervisor.

 

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